Me acho tão esperto!,
enquanto minha poesia burra
sentada no balanço da cadeira
ri de mim, desapressada.
Retrato
Escrito por Jules às 21:17 | 1 comentário(s) » | marcado em poesia |
Soneto para Beatriz
É alta noite quando Beatriz
se vira e sussurra doce vento:
Me faz um soneto. Como eu quis
abençoar este flutuado momento!
Beatriz é a estrela, é felina,
o próprio verso que repousa em mão.
E enquanto adormece, me ensina
as doze faces do amar; que lição!
Mas melhorar o perfeito? Impossível.
Apenas cubro com delicado pano
a delicadeza dessa flor sensível
e violeta, antes que qualquer dano
faça da nuvem destino inconcebível...
Ah! Beatriz, como eu te amo.
Escrito por Jules às 21:02 | 1 comentário(s) » | marcado em Jules gostou, poesia |
Cidade verdura
O tempo se esforça a passar
na rua e nessa fala,
lê-se aí
cinquenta por cento em desconto
em peças de qualquer ordem ou espécie.
Banco 24 horas
te ajudamos, financiamos
seu cachorro também.
Abacaxi na venda,
maçã, pera,
romã falta, se falta!
A verdura verdeja
sob o brilho salgado,
verdura também o sujeito
detrás do balcão madeira-fina.
Joias, vendemos joias
para joias, mas trata-se
apenas de uma
metáfora, veja bem.
Sorvete para o moleque,
sorri com gosto, pura água,
sorri que hoje é feriado.
Loja da música, temos
tudo, a música
da próxima semana, e
aquela ainda a ser inventada, quem sabe.
Remédios, remédios,
dá-me todos,
os mais coloridos,
tomarei num gole só, mas com água.
Fio dental? Dá,
não sabia que precisava
deste também.
Folha a virar página ainda,
papel manteiga, sulfite, crepom, sufixo tem?
Ah, é, vê-me uns
de nome engraçado.
Obrigado, volte
sempre, mas com
dinheiro.
Acabei-me na igrejinha,
o sino a me anunciar.
Casa de Deus,
fui dar-me com Jesus
suas estórias de salvação
que não entendo, mas
acho lindo, lindo...
Aqui fico, sentado à cruz
acabo a cidade às letras INRI, mas
quem sabe onde acabo?
Escrito por Jules às 15:56 | 2 comentário(s) » | marcado em poesia |
Só menino
Olha só
garoto comprido,
dorme, e com sonho...
será que sabe?
Já ouviu dos romanos, dos algarismos...
encontra-os em fantasia
ou então é das esquinas?
É dos compassos
ou da solidão?
E é o menino que indaga
nas reticências do olhar.
Quando, por sorte ou
destino em flor
encontra-se com relógio à mão,
então é mestre-bom!
Sorri, e
derretendo na boca suja
vai a tarde pendendo a escorrer.
Escrito por Jules às 18:12 | 0 comentário(s) » | marcado em poesia |
Memorial
Aqui, gravado em pedra e em silêncio,
repousa nosso senhorio maior.
Faça silêncio, favor
não tocar, mostre ao menos
um esboço de respeito.
O verde nasce aos pés da estátua:
é sinal ou coincidência,
obra divina, glória! glória!
todos cantam em si.
Enfim, seria bom homem?
tivera seus deslizes, será,
mas que homem não merece a forca,
meu deus? Meu Deus, pra quê pai,
abandonaste a alma pobre
quando precisava-te.
O senhor deixou uma granja fina
a ser dividida entre netos,
ordem do tapa.
Lá vão eles, amassados,
a ver quem fica com a única vaca leiteira.
Escrito por Jules às 18:07 | 1 comentário(s) » | marcado em poesia |
Amor noturno
Retrato, incontrolável prata,
que vem acompanhar-me no banco
e no passo,
diz-me se não pareço um inseto...
diz-me! Mas não:
silente, admira-me,
parece até que sou eu a atração...
e segue meus caminhos,
dobra esquina corre rua pula pedra.
Sempre linda
lindeza está no nome,
está em meus olhos,
onde estará amanhã? Sabe-se Deus!
Ai que te amo, longe, esvuacenta,
ai que te amo...
Escrito por Jules às 15:20 | 1 comentário(s) » | marcado em poesia |
A/N
Ano novo
ano neve
e chove muito
mas amo tanto que o amor se escreve.
Amo novo,
mas a paixão inda é velha.
Se o amor persiste, então
amo de novo.
Presente mágico me foi dado
outrora futuro não desvendado
nele enrolo-me, e enrolado
a nova neve derrete-se.
Ano, vá neve! e derreta-se,
ordeno,
mas a cidade continua
a fotografia do ano passado.
Amei nevascas, e
agora nado em maré
através de notas e vestígios
do amor-neve, amor-leve,
amor nosso
amor novo.
Pro ano nascer novo
é nossa a missão de não
deixar envelhecer o pobrezinho coração.
Escrito por Jules às 00:00 | 3 comentário(s) » | marcado em poesia |