Há muitas vozes.
Me chamam e não vejo,
há ademais muitas vozes!
Eu aqui posto em meu
lugar, diante do espelho,
e eu perguntando ao pó:
onde fui parar?
Em que estação desci?
(verão, o romance, e outono, o fogo)
Há muitas vozes! E me convocam!
Me contam velhas notícias.
Me deixam às sombras do banco.
Entre dois dias me prendo
e me ilumino muito pouco.
A dor é só fingida
o vento voa imaginado
no marginal indício e repouso
teu e meu, os olhos. As vozes!
Crio asas (há muitas vozes)
crio o tempo (desafinam)
e criarei minha própria era
insistida no silêncio
de uma paz, minha e de todos
pintada em só uma cor, uma gota vermelha
entreversada.
Poesia de meu tempo
Escrito por Jules às 21:02 | 0 comentário(s) » | marcado em poesia |
Esta terra
Na janela, um vento que ruge pra dentro de casa.
No cristal, uma paixão antiga e descolorida.
Descobri a forma de uma paixão,
mas como mantê-la?
Se minhas mãos são pequenas,
se eu todo me compresso em minha pequenitude,
sou ínfimo e me exponho, sem motivos.
Quem sabe um dia volto a ser,
e essa fenda e essa magnitude
completarão de vez a vida inteiriça.
Sob a camisa vermelha
sob o peito sem disfarces
eis o peso de meu mundo!
Que dor tamanha reconhecer
que do mundo não escapamos mais!
As peças estão dispostas.
Mas não sei juntá-las.
Peço perdão pela ignorância minha.
Não nasci por entre clarividências.
Consumi apenas o que me foi entregue
e nada além resta que minha disciplina não
já tenha confrontado antes.
Sou o palhaço e todos, todos choram.
Coitados, mas salvá-los é impossível.
No final da tarde, e
na ceia posta à mesa
o mundo fecha-se. E vejo no furo,
nos contornos do abismo branco
e nos palcos dos dramáticos
o frio que tomou: esta terra, esta terra.
Escrito por Jules às 13:14 | 1 comentário(s) » | marcado em poesia |
Faceta
O mundo é grande
e pordemais vasto
para poder me calar.
Quando deito,
quando levanto e quando me enterro,
meu coração só quer explodir.
(sou todo explosão)
Pra quê o mundo?
Se nasci pequeno e sem árvores...
Minha liberdade foi perdida ou é nula...
Por isso em casa percebo amores...
Não sei usar as mãos como tesouras...
Queria só a paz duma casinha escondida!
Sim! Como queria!!
Mas agora é tarde, mundo meu,
e convocarei todos os animais
e rasgarei todas as vestimentas
e perderei a máscara de humano
só pra provar do mundo o gosto
da minha fome, da tua boca e da
nossa eternitude.
Escrito por Jules às 13:01 | 0 comentário(s) » | marcado em poesia |
Passagem noturna
Ai minha amada,
que faremos agora?
A noite surgiu galopante
pra me deixar cego e perdido
pra te levar embora consigo;
e agora?
Tenho medo, e te chamo.
O crepúsculo já deitou o fogo,
o verão perdeu sua natureza
e a certeza do luar me alerta.
No silêncio, o canto de um sombrio pássaro.
Esse mundo agora é só camada gélida
de ar petrificado pelo anúncio do amanhã.
Tudo dorme. A chuva é rio de sono.
Tudo morre, e ninguém ou nada arrisca existir.
Tudo vive, sob lençois, sob o mato.
Tenho medo meu amor, o mundo é disperso,
é espuma venenosa. Enxergo branco.
Nas ruas sub-iluminadas há só
a pesada névoa do cansaço.
Mas dentro de casa
mas dentro de teu peito, enfim,
uma flor abre em sutil exclamação.
Teu abraço é minha única salvaguarda.
Se sobrevivi à passagem, foi só pra berrar à aurora:
vivo!
Escrito por Jules às 19:20 | 3 comentário(s) » | marcado em poesia |