domingo, 21 de junho de 2009

Ode perdida

Esta é minha ode
destinada às coisas vivas
que permeiam meu solo.

Viveis por todos os lados.
Tarde mesmo aterrisa o recado.

(antes tarde do que a morte)

Viveis a vida num reparto
no sol ou na penumbra

e, num mesmo coração gelado,
sois enfim levados à tumba.


Mas viveis!!! e havia vida, naquela época!!!

O meu tempo

Eis que me curvo e suplico:
para com as águas deste momento!
Sou apenas um homem minúsculo
numa cadeira minúscula
no dia tão, tão minúsculo
que minuscularei pro resto da vida.
A vida não corresponde. A vida
me furta o tempo sem calor, amarrotado
e já depositado nos bolsos.
Todas as minhas inquietações aí,
outrorgadas ao ar, coletando poeiras...
e eu, corpo velho e perdido
- senhor senhor devolva-me trint'anos -
vendo as plantas crescerem, cada dia
mais altas, cada dia mais imóveis.
E esta dor que não me larga!
E me devora, faminta...
não há de ser dor a percepção do que
sou... mas sim a do que não me tornei.
Meus queridos amigos em fotografias
(aí mui mais bonitos!) de areia,
podem doer, se assim eu quiser.
Mas logo a dor esvoaça em branco...
enquanto dessa janela
enquanto dessa calmaria
observo o sol descer o mundo.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Quem ama a coisa amada

Quem ama a coisa amada
e sofre seu desamor
há de ser a coisa errada
que alimenta sua dor;
em seguida, abandonada.

Quem adoece de delírio,
da falta do chão à frente,
traça de pano inconsistente
os laços do corpo empírico,
morada do coração batente.

Quem cumpre a vã promessa
ou pena da vida correta
promete-se à rosa, e por essa
traça uma linha infinita e reta;
pede-se (por medo): não a meça.

Quem recorre ao grande raio
do poema, e colhe o nada
duma insanidade declarada
(seja no ano, agosto, maio):
sinal que ama a cois' amada.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Cidade sitiada

Meu peito se abre
e integra a cidadela
e compõe o sol poente
no coração do mundo.

Feixes de luz no escuro...
sombra toca a mão da sombra...
olhos que se perdem nas águas...
toques já perdidos no tempo...

a chuva leva silentes desejos azuis pela
colina, colina abaixo, dia negro...
dia surdo! Dia cego!

Olho as pernas, os medos, os...
estirados no calçadão central
pegando bonde, chegando cedo
onde não precisam estar...

Não conheço outras verdades!
Desta vida, carrego comigo
a ansiedade e imprecisão
de cada canto que enxergo.

Silêncio de pedra

Está um silêncio de pedra
neste espaço enorme entre pés
e no frio que une-se ao calor
e vai, cinza, assustar os prédios
da contabilização oficial.
E num concreto momento
escapo do corpo e deito
numa cama de pano...
sob um campo tão alto...
e numas nove cores descanso.

Procura seguir o ferro e a linha!
Procura voltar teu episódio!
Quanto espaço! Quanta vida inda guardada!

Nas pesadas janelas, nos cofres concelados...
e pergunto: pra quê o mundo todo armado?

Pesquiso, mas termino
em casa, sem resposta,
exausto.