terça-feira, 5 de maio de 2009

Passagem noturna

Ai minha amada,
que faremos agora?
A noite surgiu galopante
pra me deixar cego e perdido
pra te levar embora consigo;
e agora?

Tenho medo, e te chamo.
O crepúsculo já deitou o fogo,
o verão perdeu sua natureza
e a certeza do luar me alerta.

No silêncio, o canto de um sombrio pássaro.
Esse mundo agora é só camada gélida
de ar petrificado pelo anúncio do amanhã.

Tudo dorme. A chuva é rio de sono.

Tudo morre, e ninguém ou nada arrisca existir.

Tudo vive, sob lençois, sob o mato.

Tenho medo meu amor, o mundo é disperso,
é espuma venenosa. Enxergo branco.
Nas ruas sub-iluminadas há só
a pesada névoa do cansaço.

Mas dentro de casa
mas dentro de teu peito, enfim,
uma flor abre em sutil exclamação.
Teu abraço é minha única salvaguarda.
Se sobrevivi à passagem, foi só pra berrar à aurora:

vivo!

3 comentário(s):

disse...

oolha, esses abraços aí, né, mas tudo bem.

Carola Guimarães disse...

:)

Belo poema! ;D

mills disse...

só por que a gente passa um tempo sem vir... ÓTEMO

inspirado na tristeza, oxe?