segunda-feira, 20 de abril de 2009

Curiosa semelhança

As horas se empilham, gastas.

Teus dedos envelheceram. Teu sangue, e
as embalagens de leite também.
Outrora tu fostes um livro engomado,
agora vês o dia como amigo.

Algumas coisas permaneceram.

O melancólico jornal reduz ainda
o dia atual. A mulher encarrilha
ainda o mundo girante.

Mas tu eras alheio, ignorante, feliz
até. E agora tens de batalhar
por tudo, pela honra e pelo pão.

Os homens deitam, evoluem,
os homens regressam ao mar,
sobretudo ao sublime, seco mar.

Oh orai pelo amanhã secreto
de uma fotografia amarelada.
Orai pelo tempo que range
por entre pés

ouvidos
memória
que dor.

Para provar que continuas,
posiciona-te ao espelho
e essa engraçada figura
de um, cinco, cinquenta anos atrás
sobrepõe-se esquálida e pequena
à curiosa semelhança do reflexo e de ti.

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