Há poesia em tudo.
Há poesia no sapato,
no sol e no ladrilho.
No cachorro, há poesia.
No gato; na abelha
e nos velhos sabores também.
Há poesia nas metralhadoras
e nos tambores de guerra, agora
rufando, comunicando o poema.
No amor, na invasão,
no invisível, nas marés
e no casaco.
Pura vertigem, essa terra,
ao se converter à vontade
do poema.
Poesia da madrugada, sub-reptícia,
do raiar e da lã:
bom que é vê-la aí na entrada
e tudo se acerta
e meu coração agita e aceita
a calmaria desse agora.
Há poesia, é certo, no verão
e a cor da estação
é pra onde sigo ao final da música.
Certamente há poesia no salão municipal
e na biblioteca pública.
Ouve, meu amor: há
poesia agora, no focinho do lobo.
Para lá iremos ao anoitecer.
Nas crianças há muita poesia
intocada, pueril, montada.
A poesia escorre
pelo lábio beijando lábio
pelo beijo beijando beijo
e num momento fez-se luz
fez-se saída
fiz-me ambiente e éter.
Quilos e quilos de poesia
dando adeus, amarrados no navio,
sobre o escorregar do convés.
No abuso, a poesia secreta.
Na caneta, a poesia já morta.
Há poesia em quase tudo.
No toc do salto alto
no ah! da vida
no ai da morte
no calor da cama
na cama gelada aberta
e na altura do que vejo.
Que vejo? Vejo no código
e na resposta, mesma gente,
que na ciência existe
e no poema permanece. E se perde.
sexta-feira, 27 de março de 2009
Há poesia
| marcado em Jules gostou, poesia | Este texto foi postado às 21:56 e está marcado em Jules gostou, poesia . Você pode seguir os comentários através do Feed RSS 2.0. Você pode também deixar um comentário, ou linkar do seu site.
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2 comentário(s):
tá muito bom, as usual! e concordo, há poesia em tudo. (quaaaase tudo)
trechos em especial again.. mas ficou legal
daqui a um pouco tu está apaixonado.
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