sexta-feira, 27 de março de 2009

Há poesia

Há poesia em tudo.

Há poesia no sapato,
no sol e no ladrilho.

No cachorro, há poesia.
No gato; na abelha
e nos velhos sabores também.

Há poesia nas metralhadoras
e nos tambores de guerra, agora
rufando, comunicando o poema.

No amor, na invasão,
no invisível, nas marés
e no casaco.

Pura vertigem, essa terra,
ao se converter à vontade
do poema.

Poesia da madrugada, sub-reptícia,
do raiar e da lã:
bom que é vê-la aí na entrada
e tudo se acerta
e meu coração agita e aceita
a calmaria desse agora.

Há poesia, é certo, no verão
e a cor da estação
é pra onde sigo ao final da música.

Certamente há poesia no salão municipal
e na biblioteca pública.

Ouve, meu amor: há
poesia agora, no focinho do lobo.

Para lá iremos ao anoitecer.

Nas crianças há muita poesia
intocada, pueril, montada.

A poesia escorre
pelo lábio beijando lábio
pelo beijo beijando beijo
e num momento fez-se luz
fez-se saída
fiz-me ambiente e éter.

Quilos e quilos de poesia
dando adeus, amarrados no navio,
sobre o escorregar do convés.

No abuso, a poesia secreta.

Na caneta, a poesia já morta.

Há poesia em quase tudo.

No toc do salto alto
no ah! da vida
no ai da morte
no calor da cama
na cama gelada aberta
e na altura do que vejo.

Que vejo? Vejo no código
e na resposta, mesma gente,
que na ciência existe
e no poema permanece. E se perde.

2 comentário(s):

disse...

tá muito bom, as usual! e concordo, há poesia em tudo. (quaaaase tudo)

mills disse...

trechos em especial again.. mas ficou legal
daqui a um pouco tu está apaixonado.