terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Mentiras que nos contamos

Da mesma fonte de onde partimos,
onde esperamos chegar, por sorte ou destino,
atravessando a própria ciência e existência humana
e as paredes simplesmente frágeis,
flui puro pelas passagens
o ventre do verdadeiro amor.

É de onde me agarrou a alma cega
e fez sua artimanha, plano de fuga,
fisgou da terra a luz toda
e levou a olho de moça nova:
eis ali na curva do coração,
foste meu verdadeiro amor.

Mas quando encosto-me no quadro da memória
não há certeza de mais cousa, nada.
Deito frio e acordo morto
cada pouquinho só mais louco,
cadê o sangue partido, o bem-perfeito
indefecto, és tão minguante assim,
és meu verdadeiro amor?

O mal que atravessou séculos
deu-se seu jeito até mim.
Não dói; queima.

Mas morimbundo que saio,
passos retos nas calçadas viradas
e no enxame do pensamento ininterrupto
interrompe-se-me de súbito.
Não és, pois, a face parda trancada à rua
e que recomeço a reconhecer, não é vero?
Serás tu o meu amor verdadeiro!

2 comentário(s):

disse...

ui ui uui, pretty damn good!

mills disse...

Gostei.
Achei bem interessante, pra falar a verdade..
gosto quando tu escreve dessas.. (A menina e seu sorriso - na minha visão é parecida, pelo menos)
Bom, até mais!