quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Tua face

Minha face,
já pálida de nascença,
expressa tristeza; e pavor;
nem sempre em quantidades suportáveis.

Você aí, amigo,
que carrega o mundo-em-forma-de-cruz
junto ao peito: devoção a teu sacrifício.
Não há infortúnio igual ao teu,

eu sei.

Há sim uma sublime concentração
para criar uma jaula ao teu redor
que te impeça dos pecados perdoáveis
(aqueles mesmos, que te contei...)

Cada um; na rua, na padaria, no
supermercado,
perambulando o labirinto seu,
enfrentando os minotauros a socos.
Renasce o dia, enfim, mais pálido que
o céu e o eu e a terra e o tudo.

Ah, minha face,
pudesse motrá-la em público
seria o juízo final dos anjos.
Mas os alfaiates alunos da alquímica
já costuraram esta grotesca máscara sedosa,
ridícula.

Arranco-a em vão; pertence-me.
Nesse ar orgânico sufocante
cujo servo sou eu mui delirante
flutua a pena branca.
Ora!, deixo-a escapar
por preguiça no movimento de fechar a mão.

Que triste a velocidade com que o mundo gira,
diz-me tua face e lábios inocentes demais.
Mas a minha inda não te falas
nada do que sei e do que decorei.
Ah, minha face...
ah! O tempo é curto.

0 comentário(s):