domingo, 14 de setembro de 2008

Soluços

- Então...
- Então que eu me senti, que eu me sinto muito estranho, sabes? É que às vezes as coisas parecem estar tão longe e disfocadas que mal podemos saber se existem. Não temos como descobrir se a barra de ferro é deveras sólida ou se tremula ao vento... se é mais surda que o fogo. Fogo é que sempre (se) escuta, sempre de olho no ambiente... e logo nem mais fogo é. Vais saber qual tarde que virará noite súbita, e encontrarei-me correndo na chuva, num céu pesado e fugindo das minhas costas? Vais saber!... Não sei nem, ora, pra quê te conto isto. Mas veio um anjo... não, anjo não; uma luz, veio uma luz ontem enquanto deitava-me à cama, e as coisas mudaram de significado, sabes o que digo? Olho novamente a mesa e os objetos mutam-se. Olho o chão e este vira nevoeiro espesso. E as idéias correm tão tão tão depressa, à toa... fuga! Os conceitos, vasos, vidros, nossa, me espiam tortos, oblíquos, dá medo. Volto àquela luz e fico nervoso, tímido, instantâneo. Pareço uma torre, me entendes? É que dá uma vontade - sabe quando tu estás num estádio carregando uma lata na mão e a tristeza te faz amassá-la (tu és indiferente ao machucado na mão) e arremessá-la contra a parede, não importa o quanto esta dista de tu? Pois sabes, esta vontade, alheia a mim, é que me bate... não é tristeza; não é da compaixão ou pena dos outros que preciso. Entendes o que digo? Também os alarmes, os alarmes... me soam e fazem zumbir os tímpanos, agudos. Me pegam em meio da noite, durante meus monólogos consoantes... sabes do que digo? Entendes do que se trata?
- Entendo! Ora pois.

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