quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Ultimato

Como é difícil!

Quero umas luvas de veludo
para proteger minhas mãos
dos pecados deste mundo destemido.
Mas minhas mãos estão brancas...
As luvas já nem cabem mais.

Ah, como é difícil!

Encontrar uma fala pra prosa,
um versejo ao poema;
um ouvido à boca minha,
pensada sozinha por meus
antepassados ultrapassados,
por meu vulto ígneo.
Que foi? Homens também tem magma em si...

Como é difícil!

Saio na rua e berro mais alto que minha voz:
dificílimo!
Mas o ônibus mecânico
abafa este ônix que lapidei
com meu próprio conhecimento.

Por isso não vale nada, e
ah!, concluo: morte é tão mais simples,
e essa vida termina sempre num
belo movimento interminado.

Sei bem que a morte é simples,
a vida é simples
e as pedras rolando e os
passos passando são simples.
Mas o amor - ah, como é difícil! -
é mais complicado que as vias
do mundo retorcidas em viradas rodovias
cambaleantes ao toque terno
dos amantes amar eterno!

Pra tudo se tem remédio;
mas o amor, não sendo tudo no mundo,
gera apenas efeitos colaterais.

E como é difícil! E duro!

Tudo consola; vida, morte,
terra, menina, cavalo, instrumento.
Menos o amor, meu caro,
que pra sempre é eterno descontento.

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